terça-feira, 1 de março de 2011

Técnica brasileira de fazer chover pode ajudar a combater desertificação


Entre as delegações dos 193 países que participam do encontro da Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas (UNCCD, na sigla em inglês) em Bonn, na Alemanha, estavam dois brasileiros que querem divulgar sua receita para evitar o aumento das áreas secas.
A reunião em Bonn vai até a próxima sexta-feira (25/02) e é um momento de prestação de contas. “Os governos mostram como estão combatendo a desertificação, quais políticas estão aplicando e os casos bem-sucedidos”, disse Heitor Matallo, coordenador da UNCCD na América Latina.
Takashi e Ricardo Imai, da empresa brasileira ModClima, viajaram a convite do secretário-geral da Convenção, Luc Gnacadja. Eles levaram consigo a experiência de provocar chuvas em áreas pré-determinadas e os sucessos registrados nas regiões de represa em São Paulo e no semiárido nordestino.
Nos corredores da sede da reunião, a dupla – pai e filho – ficou conhecida como “aqueles que fazem chover”. Nesta terça-feira (22/02), os fundadores da empresa explicaram como descobriram o método de semear nuvens e estimular a precipitação em áreas carentes de chuva. A ModClima tenta agora meios de levar essa expertise para fora do Brasil.
Borrifar gotículas de águas nas nuvens
“Eu era uma pessoa que poluía o planeta e cortava árvores. Mas depois passei a me preocupar de verdade com o planeta e comecei a pesquisar um método totalmente limpo de fazer água cair do céu”, diz o inventor Takashi.
O engenheiro mecânico fabricava motosserras e chegou a produzir 73 mil unidades anualmente, mas teve uma crise de consciência ao cortar um jacarandá de 250 anos. Interrompeu a produção do equipamento subitamente, o que o levou à falência.
Takashi foi então procurar a solução nos céus, nas nuvens. E a inspiração para estimular a chuva artificialmente veio de um pesquisador alemão especialista no assunto, Hans Pruppacher. O brasileiro descobriu que borrifar gotículas de água, com um tamanho exato, em nuvens com potencial para chuva estimula a precipitação.
A técnica é aplicada com ajuda de radares adaptados. O pequeno avião da empresa, um bimotor Asteca, leva um tanque de 300 litros de água. Segundo a ModClima, um litro de água semeado nas alturas provoca até 500 mil litros de chuva, o equivalente a 50 caminhões-pipa.
Com o processo, as nuvens aumentam visivelmente de tamanho e a chuva cai sobre a área determinada. Na região do semiárido brasileiro, o índice de eficácia da técnica é de 68%. Ricardo explica que o método criado por seu pai ganhou credibilidade depois da parceria com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp.
O resultado da cooperação encheu as represas do sistema Cantareira e Alto Tietê, depois de três contratos com a companhia. Com o risco de extrapolar a capacidade das barragens por causa do volume de água, a parceria foi temporariamente suspensa.
Fora da agenda
Evitar a desertificação, no entanto, é um tópico pouco presente na agenda dos governos. “A Década das Nações Unidas para os Desertos e Luta Contra a Desertificação 2010/2020 tem justamente essa função. Queremos sensibilizar os países, chamar a atenção da comunidade internacional para o problema”, pontua Heitor Matallo.
Segundo dados da ONU, mais de 2 bilhões de pessoas vivem em áreas vulneráveis de solo seco. O avanço desse cenário é preocupante em mais de cem países do globo: a desertificação é um risco presente em 33% da superfície da Terra, em zonas áridas e semiáridas.
“Nós temos muita água no céu. O nosso desafio é fazer essa água cair no solo”, comenta Takashi, que já fez mais de cem voos em dez anos de aperfeiçoamento da técnica de fazer chover.
Segundo os Imai, o processo pode ser aplicado com sucesso em outras regiões do mundo, em épocas propícias. Questionado sobre a possibilidade de trabalhar em parceria com países africanos pelo representante de uma ONG de Moçambique, Ricardo respondeu: “O nosso objetivo agora é aplicar a técnica em outros lugares do mundo, com base no nosso sucesso no Brasil.”
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler
Disponível em:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,14861114,00.html

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