terça-feira, 18 de janeiro de 2011

EDUCAÇÃO - Notícias que correm pelo Brasil

O fosso entre universidade e indústria
José Goldemberg
O IBGE divulgou recentemente os resultados de uma pesquisa realizada com as indústrias brasileiras - mais de 100 mil - para verificar quais delas investiram em inovação e quais simplesmente se restringiram a fabricar os mesmos produtos ano após ano. A pesquisa cobriu o período de 2006 a 2008. Inovação é um fator decisivo para aumentar a competitividade das empresas e inclui desde produtos ou processos novos até o desenvolvimento de novos usos para produtos já existentes. Na generosa definição usada pelo IBGE, são considerados como inovação a pesquisa e o desenvolvimento, a aquisição de pesquisas externas, os investimentos em máquinas, o treinamento de pessoal e a introdução de produtos no mercado, entre outros.

Os resultados da pesquisa são interessantes: cerca de 38% das empresas fizeram algum tipo de inovação - nos anos de 2003 a 2005 esse índice era de 34% e, portanto, aumentou. Na Alemanha, por exemplo, mais de 70% das empresas, porém, são inovadoras. Pior ainda, somente cerca de 5 mil empresas nacionais realizaram atividades internas de pesquisa e desenvolvimento. As atividades de inovação não se devem, por conseguinte, de forma significativa a pesquisas, mas a desenvolvimento e licenciamento de programas de computador, telecomunicações, outros serviços de tecnologia da informação e tratamento de dados, que não são realmente muito criativos e não deram origem a um grande número de patentes, área em que o Brasil continua com índices muito baixos. A pesquisa do IBGE nos diz ainda que, no tocante aos recursos humanos envolvidos com as atividades internas de pesquisa e desenvolvimento, havia aproximadamente 70 mil pessoas ocupadas nessa área, das quais apenas 10 mil tinham pós-graduação.

É aqui, a nosso ver, que se encontra o calcanhar de aquiles que retarda a modernização do País, como observaram corretamente o então ministro
da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e o secretário nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Ronaldo Mota, em artigo publicado recentemente: "A atividade de inovação tecnológica requer a participação de engenheiros e cientistas, preponderantemente com formação pós-graduada. Apesar do início tardio, a pós-graduação brasileira avança rapidamente. O número de mestres e doutores formados passou de cerca de 5 mil em 1987 para quase 50 mil em 2009. A ciência avançou muito no Brasil; no entanto, a inovação tecnológica em nossas empresas ainda é tímida. Tal situação decorre da carência de cultura de inovação no ambiente empresarial e da insuficiente articulação entre política industrial e ciência e tecnologia." (Folha de S.Paulo, 8/11/2010). A nosso ver, no entanto, o problema não é de cultura empresarial, o que há é um descompasso entre oferta de cientistas (e de ciência) e demanda pela indústria. E isso se deve à ausência de políticas públicas que induzam a indústria a procurar atividades inovadoras e modernizantes que aumentem sua competitividade.

O sistema universitário brasileiro está produzindo, de fato, um grande número de mestres e doutores, e a produção científica desses mestres e doutores é apreciável, mais de 10 mil publicações por ano, colocando o Brasil numa posição confortável como o 12.º maior contribuidor mundial nesse campo. A maioria, contudo, continua nas universidades, e não na indústria, onde eles poderiam servir como alavanca do desenvolvimento. A principal razão para tal é que as universidades brasileiras, de modo geral, incluindo a Universidade de São Paulo (USP), foram pensadas como projetos culturais, e não como projetos modernizadores na área de tecnologia, com a exceção do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), dos trabalhos de Carlos Chagas e de Manguinhos e poucos outros.
Esse foi um grande problema na extinta URSS, cujo amplo sistema de apoio à ciência - que sempre foi privilegiada por Josef Stalin - teve sucesso em realizar grandes avanços na área militar (bombas atômicas, Sputnik e outros), mas foi incapaz de modernizar a indústria e a agricultura soviéticas. O fracasso desse sistema em melhorar o nível de vida da população contribuiu muito para a derrocada da União Soviética, como, aliás, reconheceu o próprio presidente Mikhail Gorbachev na ocasião. Quando políticas públicas adequadas existem, a inovação "explode", e há bons exemplos disso no Brasil. Segundo o IBGE, no seu estudo, um dos setores líderes da inovação na indústria foi o farmacêutico, com o desenvolvimento de medicamentos genéricos. Em outras palavras, uma política governamental, que foi a introdução dos genéricos no País, realizada quando José Serra era ministro da Saúde, abriu caminho para que um grande número de laboratórios nacionais passasse a competir no mercado.

Outro exemplo é a Lei de Mudanças Climáticas adotada pela Prefeitura de São Paulo, que prevê a instalação de coletores solares para aquecimento de água para fins residenciais. Isso estimulará os fabricantes a produzir mais e melhores equipamentos, o que, por consequência, levará a uma redução de custos. A Lei de Mudanças Climáticas adotada pelo governo do Estado vai no mesmo sentido e sua implementação na direção de uma economia de baixo carbono contribuirá para a modernização do parque industrial paulista. Como facilitadores desse processo, as incubadoras de empresas e os parques tecnológicos são agentes capazes de desempenhar um papel relevante no apoio à solução de problemas novos na fabricação e comercialização de produtos exigidos por um mercado interno crescente. Como atualmente o número de inovações na indústria brasileira é limitado, a tendência é depender crescentemente da importação de produtos, como já está ocorrendo em vários setores, o que não é um bom caminho a longo prazo.

Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2011 - São Paulo SP



As cotas raciais
NIVALDO ELIAS MURAD
Fui professor em escolas de engenharia federais e estaduais durante 34 anos. Fui, também, diretor de vários projetos industriais na área de automação. Com essa experiência na área técnica, mas também com os relacionamentos humanos, sinto-me confortável para emitir minha opinião sobre a tentativa de se impor ao nosso país o sistema de cotas raciais, a mais recente e demagógica bandeira da esquerda. Meu primeiro contato com o assunto raça ocorreu quando dois norte-americanos, brancos, escreveram um livro tentando demonstrar que os negros de seu país tinham QI inferior ao dos brancos. Um aluno, fugindo do assunto da aula, me perguntou o que eu achava do conteúdo do livro. Eu demonstrei que, em cada fase da humanidade, uma determinada raça teve a primazia do controle tecnológico, militar e das ciências em geral.

A liderança exercida pela chamada raça branca, europeia, é, ao contrário do que se pensa, muito recente. Outro ramo da raça branca, da linha semita, os assírios
e fenícios, habitantes do Líbano, Síria e Iraque, e os judeus possuem uma civilização de mais de 5.000 anos, sendo que a mais antiga civilização europeia, a grega, possui menos de 3.000 anos. Quanto aos não-brancos, os chineses possuem uma civilização de mais de 10 mil anos - provavelmente é a mais antiga. Os mouros, habitantes do norte da África, uma mistura de árabes com negros, portanto, mulatos, formaram uma civilização que foi dominante durante 700 anos (aproximadamente do ano 800 até 1492). Falar o árabe na Europa na época era tão importante quanto falar inglês hoje.

Quanto ao sistema de medida de inteligência denominado QI, ele foi desenvolvido pelos europeus e, evidentemente, baseado no seu tipo de inteligência. Seria até estranho, portanto, que uma raça não europeia os superasse nesse quesito elaborado por eles e para eles. Exatamente por não acreditar em superioridade racial, sou contra o sistema de cotas, pois seria o reconhecimento da insuperável
superioridade do branco em relação ao negro, que necessitaria de uma muleta para se igualar ao outro, o que é evidentemente uma mentira. Seria, também, oficializar o racismo, mesmo que invertido; o mérito não pode ser deixado de lado por outras considerações, mesmo que essas estejam baseadas em boas intenções.

O sistema de cotas é um "quebra-galho" que políticos tentam demagogicamente introduzir para fugir da verdadeira questão que é a melhoria do ensino público. E, finalmente, ele não tem sentido em um país em que 75% da população tem sangue negro, raça que se pretende beneficiar. O filósofo Demétrio Magnoli demonstrou que, se o governo investir R$ 30 bilhões (um sexto do que o país paga em juros) a mais, por ano, nas escolas públicas, elas se equipararão às particulares. Assim, o único caminho possível é enfrentarmos o problema da melhoria da escola pública, fugindo de soluções demagógicas e plenas de falsa compaixão.
Fonte: O Tempo, 17/01/2011 - Belo Horizonte MG

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