DW – 21/02/11.
Um agricultor indiano pesa os resíduos da colheita, antes que sejam usados para produção de bionergia
No estado de Uttarakhand, no norte na Índia, combustíveis ecologicamente corretos estão à disposição pelas ruas: folhas de pinheiros, em forma de agulhas. O clima ameno – nem muito quente, nem muito frio – é ideal para os pinheiros.
Quando chega a época do ano em que as árvores perdem suas folhas, todo o chão fica coberto. Estas “agulhas” secas são ideais para serem transformados em briquetes, queimados depois como combustível.
A utilização da biomassa – como a proveniente das “agulhas” dos pinheiros indianos – é uma maneira de produzir energia sem prejudicar o meio ambiente. Ela reduz o uso de combustíveis fósseis como o carvão e as emissões de gases estufa.
Biomassa: restos valiosos
A biomassa compreende tanto plantas oleaginosas, como a canola e o milho, como também madeira, folhas secas e palha. Resíduos orgânicos – sejam da agricultura ou da cozinha – são igualmente biomassa e utilizados para a obtenção de energia através da incineração.
Durante a geração de energia, a biomassa apresenta um comportamento neutro com relação ao gás carbônico. O dióxido de carbono absorvido durante o crescimento da planta é liberado durante a queima, não alterando o balanço de carbono.
Tal processo também acontece com as folhas dos pinheiros indianos: durante a queima, elas só liberam o carbono que as árvores absorveram do solo ou da atmosfera durante o crescimento. Se as folhas se decompuserem naturalmente ou forem queimadas, a quantidade de gás carbônico emitido será a mesma.
Com petróleo e carvão ocorre algo diferente. O dióxido de carbono contido nestes combustíveis fósseis permaneceu milhões de anos sob a terra. O gás carbônico liberado durante sua queima provoca um desequilíbrio no ciclo natural do carbono.
Outra vantagem da biomassa é ser uma matéria-prima renovável disponível periodicamente, durante o período da colheita.
Potencial limitado
Especialistas afirmam que o potencial da biomassa para a obtenção de energia é limitado, sendo suficiente para suprir apenas 10 a 15% das necessidades energéticas do planeta. É o que afirma a engenheira Daniela Thrän, diretora do setor de pesquisa em sistemas de bioenergia do Centro Alemão de Pesquisa em Biomassa e porta-voz da divisão de bionergia do Centro Helmoltz para Pesquisa Ambiental em Leipzig.
Para Thrän, há um grande potencial para biomassa no Leste europeu, na América do Sul, na Austrália e na América do Norte. Nestas regiões há muita área disponível para um número relativamente pequeno de habitantes, o que possibilita cultivar, sem concorrência entre si, alimentos para a população e plantas para a produção de biomassa.
Por outro lado, regiões densamente povoadas como o sudeste asiático têm um potencial pequeno para a produção de biomassa, lembra Thrän. Já a África não é tão povoada e possui muitas terras cultiváveis, apropriadas para a produção de plantas destinadas à geração de energia. Mas a produção agrícola é muito pequena no continente e não há previsão de melhora. Por isso, Thrän acredita que, para os próximos 20 anos, não se pode esperar um aumento do potencial da biomassa na África, pois concorreria com a produção de alimentos.
Os conflitos gerados pelo tema ficaram claros em 2007, durante do debate “combustível versus alimento”, na Alemanha. Naquele período, a crescente demanda mundial por “plantas energéticas” fez com que subissem os preços do trigo, do milho e do arroz. Os alimentos também encareceram nos países pobres. A opinião pública começou a debater sobre o sentido de transformar grãos comestíveis em biocombustíveis para movimentar automóveis.
Energia sempre disponível
Para a engenheira Thrän, uma grande vantagem da biomassa é armazenar energia, que – diferentemente da solar ou eólica – permanece sempre disponível. “A tendência é que, no futuro, a bioenergia complemente a solar e a eólica”, afirma Thrän. “Quando não há vento, é possível compensar com a bioenergia.”
Futuramente, a biomassa poderia ser utilizada no lugar de combustíveis fósseis, que não podem ser substituídos por energias renováveis – como o querosene, por exemplo.
Energia a partir de resíduos
Bernd Bilitewski, diretor do Instituto de Gestão de Resíduos da Universidade Técnica de Dresden, afirma que há um potencial inexplorado da biomassa em outras áreas. Na Alemanha, por exemplo, 12 milhões de toneladas de resíduos orgânicos são eliminados a cada ano, apesar de serem apropriados para a geração de bioenergia.
“A utilização destes resíduos precisa ser ampliada, antes que recorramos a outros produtos concorrentes.” Além disso, há áreas agrícolas inadequadas para o cultivo de alimentos, mas ideais para plantas destinadas à produção de biomassa. Isto inclui espaços antes utilizados para mineração ou poluídos pela indústria, sugere.
Na Alemanha, praticamente não há mais unidades de incineração de resíduos que não utilizem de alguma maneira a energia gerada. Mas, para Bilitewski, seria possível usar essas fontes de bioenergia de forma ainda mais eficiente.
Bilitewski considera infundada a preocupação com a emissão de gases tóxicos durante a incineração dos resíduos. As regulamentações e controles do processo seriam tão rígidos e a técnica tão sofisticada, que nenhuma substância tóxica poderia ser liberada no ar.
O setor de gestão de resíduos é um dos maiores responsáveis pela redução das emissões de dióxido de carbono na Alemanha. Quase um quinto da meta estabelecida pela Alemanha no Protocolo de Kyoto será conseguido pelo setor.
Autor: Martin Schrader (lpf)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Disponível em:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5725992,00.html